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Como Identificar Doenças Renais Precocemente com Ultrassom

  • Larissa C Mesquita
  • 2 de abr.
  • 8 min de leitura


Veterinário utilizando ultrassom para examinar os rins de um cão em clínica especializada.

As doenças renais em cães e gatos estão entre as principais causas de desconforto, perda de qualidade de vida e, infelizmente, morte precoce nos animais de companhia. Muitas dessas doenças evoluem de maneira silenciosa, sem sinais clínicos aparentes até que a função renal esteja severamente comprometida. É por isso que a detecção precoce faz toda a diferença. E nesse contexto, a ultrassonografia surge como uma das ferramentas mais valiosas para identificar alterações renais antes que elas avancem para estágios irreversíveis.


Neste artigo, vamos explorar a fundo como como identificar doenças renais precocemente com ultrassom, quais são os sinais clínicos que merecem atenção, como o exame é realizado e por que ele se tornou indispensável na rotina veterinária moderna.


Entendendo a Função dos Rins em Cães e Gatos


Os rins são órgãos vitais responsáveis por uma série de funções essenciais, como:

  • Filtração e eliminação de toxinas pela urina

  • Regulação do equilíbrio de eletrólitos e do pH sanguíneo

  • Controle da pressão arterial

  • Estímulo à produção de glóbulos vermelhos

Quando os rins não funcionam adequadamente, todas essas funções ficam comprometidas. O problema é que os sinais clínicos da doença renal crônica (DRC) geralmente só aparecem quando mais de 70% da função renal já foi perdida.


Por que a Detecção Precoce é Tão Importante?


A identificação precoce de alterações nos rins permite:

  • Iniciar o tratamento antes da perda funcional significativa

  • Melhorar a resposta clínica e qualidade de vida do animal

  • Monitorar a progressão da doença com mais precisão

  • Aumentar a expectativa de vida do paciente renal

A medicina veterinária preventiva tem como um de seus pilares justamente a capacidade de identificar alterações subclínicas — e o ultrassom é um aliado indispensável nessa missão.


Causas Comuns e Fatores de Risco das Doenças Renais


As doenças renais podem ser classificadas como agudas ou crônicas. Ambas apresentam características distintas e requerem abordagens diferentes, mas têm em comum o potencial de comprometer seriamente a saúde do animal.


Entre as principais causas estão:

  • Infecções urinárias recorrentes

  • Doenças inflamatórias crônicas

  • Intoxicações (plantas, medicamentos, alimentos)

  • Uso prolongado de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs)

  • Doenças imunomediadas

  • Hipertensão sistêmica

  • Diabetes mellitus

  • Leptospirose e leishmaniose


Fatores de risco importantes incluem idade avançada, histórico familiar, alimentação inadequada, sedentarismo, e predisposição racial (como em Persas, Maine Coons, Poodles, Shih Tzus e Dobermans).


Tipos de Doenças Renais e Estágios Clínicos

A doença renal pode se manifestar de forma aguda (rápida perda da função renal) ou crônica (progressiva e irreversível). A classificação mais utilizada para a doença renal crônica é a do sistema IRIS (International Renal Interest Society), que divide a doença em 4 estágios com base nos níveis de creatinina, SDMA e proteinúria.

A ultrassonografia pode auxiliar na diferenciação entre formas agudas e crônicas da doença, além de ser essencial no monitoramento da progressão dos estágios.


O Que é a Ultrassonografia Renal?


A ultrassonografia é um exame de imagem não invasivo, indolor e extremamente seguro, que permite a visualização em tempo real das estruturas internas dos rins. Por meio das ondas de som de alta frequência, é possível identificar alterações anatômicas, inflamatórias, obstrutivas ou tumorais, com grande precisão.

O exame é realizado com o animal deitado de lado ou em decúbito dorsal, e dura cerca de 20 a 30 minutos. Na maioria dos casos, não é necessário sedar o paciente.


Principais Indicações do Ultrassom Renal


O ultrassom renal pode ser solicitado em diversas situações clínicas, como:

  • Aumento ou diminuição da ingestão de água

  • Perda de peso sem causa aparente

  • Vômitos frequentes ou apatia

  • Alterações em exames laboratoriais (ureia e creatinina)

  • Presença de sangue na urina

  • Dificuldade ou aumento na frequência urinária

  • Avaliação de doenças sistêmicas (como hipertensão ou diabetes)

Além disso, cães e gatos idosos devem ser submetidos a exames preventivos anuais que incluam a avaliação ultrassonográfica dos rins.


Alterações Renais Identificadas pelo Ultrassom

Entre as alterações que podem ser detectadas precocemente pela ultrassonografia, destacam-se:


Hidronefrose

Dilatação da pelve renal, geralmente causada por obstrução do fluxo urinário. Pode ser assintomática nos estágios iniciais.


Pielonefrite

Infecção bacteriana nos rins, que pode evoluir rapidamente se não tratada. O ultrassom detecta alterações na textura e ecogenicidade renal.


Nefrite intersticial crônica

Uma das causas mais comuns de doença renal crônica. O exame mostra perda da arquitetura renal, redução no tamanho e aumento da ecogenicidade.


Cistos e Neoplasias

Cistos renais podem ser únicos ou múltiplos, e as neoplasias (tumores) renais, embora menos frequentes, podem ser identificadas ainda em fase inicial.


Cálculos Renais

Comuns em algumas raças, os cálculos são facilmente visualizados como estruturas hiperecogênicas com sombra acústica posterior.


Interpretação dos Achados Ultrassonográficos

Um exame detalhado avalia:

  • Tamanho dos rins

  • Contornos e simetria

  • Ecogenicidade cortical e medular

  • Relação corticomedular

  • Presença de dilatação da pelve renal

  • Estruturas anormais (cistos, massas, cálculos)


Essas informações ajudam o médico-veterinário a planejar o tratamento mais adequado, indicar exames complementares ou, em casos específicos, recomendar biópsias guiadas por imagem.


Complementação com Outros Exames Diagnósticos


A ultrassonografia não atua isoladamente. Ela é parte de um protocolo diagnóstico completo, que deve incluir:

  • Hemograma completo

  • Bioquímica sérica (ureia, creatinina, fósforo)

  • Dosagem de SDMA

  • Urinálise com densidade urinária e proteinúria

  • Relação proteína:creatinina urinária (UPC)


O cruzamento dessas informações permite ao veterinário estabelecer um diagnóstico definitivo, classificar o estágio da doença e propor o plano terapêutico mais adequado.


Condutas Clínicas Guiadas pelo Ultrassom


A partir dos achados do exame, é possível:

  • Prescrever dieta terapêutica renal

  • Iniciar suporte hídrico (oral ou subcutâneo)

  • Controlar a pressão arterial com fármacos específicos

  • Monitorar a progressão da doença com reavaliações periódicas

  • Decidir sobre internações ou cuidados paliativos


Exemplo Clínico: Gato Idoso com Perda de Peso


Um tutor relata que seu gato de 12 anos está emagrecendo e bebendo muita água. Exames laboratoriais mostram creatinina levemente aumentada. O ultrassom revela alteração na ecogenicidade e redução de tamanho dos rins, compatível com doença renal crônica em estágio inicial. Graças à detecção precoce, o tratamento foi iniciado imediatamente, com dieta renal, controle de fósforo e suporte hídrico. Resultado: o gato estabilizou o quadro e mantém ótima qualidade de vida.


Benefícios para o Tutor ao Investir em Diagnóstico Precoce


Detectar precocemente doenças renais nos pets vai muito além de um cuidado técnico — é um gesto de amor e responsabilidade que reflete diretamente na qualidade de vida do animal e na tranquilidade da família que o acolhe. Animais não falam, não expressam dor da forma como os humanos compreendem, e muitas vezes sofrem em silêncio. Cabe a nós, tutores conscientes, estarmos atentos aos sinais mais sutis e buscar estratégias de prevenção e diagnóstico precoce.


Investir em exames como a ultrassonografia renal proporciona diversos ganhos, que vão desde o bem-estar do animal até a redução de gastos inesperados com tratamentos emergenciais. Abaixo, detalhamos os principais benefícios dessa escolha inteligente e cuidadosa:


  • Maior chance de controlar a doença desde o início: quando a condição renal é identificada em fases iniciais, o tratamento tende a ser mais eficaz, simples e com melhores resultados a longo prazo. Muitas vezes, apenas com ajustes na alimentação e hidratação já se obtém uma excelente resposta clínica.

  • Redução dos custos com internações e emergências: o diagnóstico tardio costuma envolver altos custos com hospitalizações, procedimentos intensivos, medicações de alto custo e acompanhamento emergencial. A prevenção, por outro lado, permite o manejo ambulatorial e mais previsível.

  • Evita sofrimento desnecessário ao animal: um pet com insuficiência renal avançada pode apresentar dor, náusea, vômitos, anorexia, convulsões e apatia extrema. O diagnóstico precoce evita que ele chegue a esse ponto, permitindo um tratamento mais confortável e menos agressivo.

  • Participação ativa no cuidado contínuo: ao acompanhar a evolução clínica do pet com exames regulares, o tutor desenvolve uma relação mais próxima com o profissional veterinário e se sente parte essencial da jornada de cuidado, o que fortalece emocionalmente o vínculo com o animal.

  • Fortalecimento do vínculo com o profissional veterinário: ao perceber o comprometimento com a saúde do animal, o tutor tende a confiar mais nas recomendações profissionais e seguir os protocolos com mais consistência, o que potencializa os resultados.

  • Aumento da longevidade do pet com qualidade de vida: diversos estudos apontam que a medicina veterinária preventiva é o caminho mais promissor para prolongar a vida dos animais. Diagnósticos precoces proporcionam anos a mais de convivência com saúde, disposição e bem-estar.

  • Tranquilidade emocional para o tutor: saber que está fazendo o melhor pelo seu companheiro reduz sentimentos de culpa ou arrependimento caso uma doença evolua. A decisão de investigar precocemente é um sinal de consciência, zelo e empatia.

  • Contribuição para uma cultura de cuidado animal mais responsável: ao realizar exames preventivos e buscar conhecimento sobre a saúde do seu pet, o tutor também se torna um multiplicador de boas práticas entre amigos, familiares e comunidades nas redes sociais.


Em resumo, investir no diagnóstico precoce por meio da ultrassonografia não é apenas uma decisão clínica: é um posicionamento afetivo, racional e ético diante da vida que se tem a responsabilidade de cuidar. Se os animais não conseguem nos dizer o que estão sentindo, cabe a nós escutá-los com o coração, com a atenção e com o conhecimento.


Dicas para Tutores


A saúde renal dos pets depende de atenção constante e pequenas atitudes no dia a dia que fazem grande diferença ao longo do tempo. Por isso, além de observar sinais clínicos, o tutor também deve adotar comportamentos preventivos que favoreçam o bom funcionamento dos rins.


  1. Observe mudanças no comportamento urinário; 

    Se seu pet começa a urinar com mais frequência, em locais inusitados ou parece sentir dor ao urinar, isso pode indicar um problema no trato urinário ou nos rins. Também é importante notar se ele está urinando em menor quantidade ou com coloração alterada.

  2. Estimule a ingestão de água diariamente; 

    Manter os rins funcionando bem exige hidratação constante. Ofereça fontes de água corrente (muitos gatos preferem), espalhe potes pela casa, e incentive o consumo com alimentos úmidos, como sachês de qualidade ou caldos naturais.

  3. Adote uma alimentação equilibrada e adequada à fase de vida;

    Rações de qualidade são formuladas com os nutrientes certos para cada estágio de vida e podem prevenir problemas renais. Para animais idosos ou com predisposição, considere alimentos específicos para suporte renal (sob orientação profissional).

  4. Evite o uso indiscriminado de medicamentos; 

    Nunca medique seu pet sem prescrição. Analgésicos e anti-inflamatórios de uso humano ou mesmo veterinário, quando usados incorretamente, podem causar danos irreversíveis aos rins.

  5. Leve seu pet para check-ups regulares, mesmo que ele pareça saudável;

    Exames de rotina ajudam a detectar alterações antes que sintomas apareçam. A partir dos 7 anos, recomenda-se acompanhamento semestral, incluindo exames de sangue, urina e ultrassonografia abdominal.

  6. Cuidado redobrado com gatos e raças predispostas; 

    Gatos têm tendência natural à desidratação e ao desenvolvimento de doença renal crônica. Raças como Maine Coon, Persa, Siamês e British Shorthair merecem acompanhamento mais próximo.

  7. Esteja atento a sinais inespecíficos; 

    A perda de peso, apatia, diminuição do apetite ou vômitos esporádicos não devem ser ignorados. Esses sinais podem indicar diversas condições, inclusive disfunção renal.

  8. Mantenha o ambiente sempre limpo e seguro; 

    Evite o acesso a produtos tóxicos, plantas perigosas e alimentos inadequados. Muitos casos de insuficiência renal aguda são causados por intoxicações acidentais.

  9. Eduque-se e compartilhe conhecimento; 

    Quanto mais o tutor entende sobre a saúde de seu pet, mais ele participa do cuidado ativo. Compartilhar informações com amigos e familiares pode ajudar outros animais também.

  10. Tenha um veterinário de confiança; 

    O vínculo com um profissional que conheça o histórico do seu pet é fundamental. Ele saberá a hora certa de investigar com mais profundidade e orientar as melhores escolhas.


Essas orientações, embora simples, têm um impacto enorme na prevenção e no controle das doenças renais. Ser um tutor atento e bem-informado é a melhor forma de garantir longevidade e qualidade de vida para os animais que tanto amamos.


Concluindo:


A ultrassonografia renal é, sem dúvida, uma das maiores aliadas no diagnóstico precoce das doenças renais em cães e gatos. Permite visualizar alterações antes que os sintomas apareçam, oferecendo uma chance real de intervenção precoce e melhora significativa da qualidade de vida dos nossos animais de estimação.


Se você tem um pet com idade avançada ou que apresenta qualquer sintoma suspeito, agende uma consulta e um exame de imagem com a Dra. Larissa C. Mesquita. O cuidado que ele recebe hoje pode fazer toda a diferença no futuro.

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